O empreendedor tem paixão. Aliás, esse é um fator que não se tem dúvidas, é razão que diferencia aqueles que constroem uma empresa daqueles que preferem trabalhar para uma. Tenho visto muitas empresas onde paixão sobrepõe a razão, em especial empresas lideradas por empreendedores, médias e pequenas, ou aquelas com características de gestão familiar.
Um dos fatores críticos de sucesso para qualquer negócio é o que podemos chamar de “dança dos capitais“.
Há uma regra antiga nos negócios de que o dinheiro deve trabalhar para gente. Essa noção serve tanto para empresas como nos investimentos de pessoa física. No universo das empresas, contudo, essa questão fica mais complexa:
- Quanto do dinheiro está imobilizado?
- Quanto temos de capital empregado que seja efetivamente capital produtivo?
- Quais investimentos são prioritários para empresa?
- Quanto temos que ter de dinheiro líquido na conta da empresa?
- Em quais aplicações financeiras devemos aplicar o dinheiro da empresa?
- Qual porcentagem deveria ser alocada em investimento?
- Será que é o momento de ter dinheiro aplicado no banco?
- Se eu fizer esse investimento naquela tecnologia, quanto que isso vai render em economias ao negócio nos próximos meses?
- Trazendo esses ganhos a valor presente, o que compensa mais: investir a longo prazo ou segurar o dinheiro no curto ?
- Devemos comprar aquela máquina? Investir naquele sistema?
Essas questões trazem um elemento que muitos não conhecem: qual é o custo do dinheiro para minha empresa?
Empreendedores e empresários costumam ser bons negociantes e visionários; nem todos, porém, conhecem o antigo segredo que fez muitos judeus e banqueiros fazerem fortuna. O conceito é simples: o dinheiro tem um preço, chama-se juros. Se alguém precisa fazer alguma aquisição e não possui o dinheiro disponível no momento, essa pessoa compra dinheiro, pagando o preço da disponibilidade para ter dinheiro na mão. O “juros” é o preço da disponibilidade do dinheiro. Isso significa que $1.000,00 disponível hoje é diferente de $1.000,00 disponível somente daqui a 3 anos. Dinheiro disponível na mão pode render, produzir, comprar. Dinheiro pode ser multiplicado.
Se a mesma quantia de dinheiro tem valor real diferente de acordo com o tempo, isso significa que todas as decisões de investimento em qualquer tipo de empresa deveriam sempre ser bastante cuidadosas. Deveriam avaliar com muito critério as oportunidades de investimento, traçar comparativos e fazer uma análise racional sobre como deve ser feito alocação do capital disponível. A distribuição do capital é aspecto essencial de qualquer negócio e deve ser analisada e decidida de forma dinâmica e racional, deveria ser levada a sério pois da mesma maneira que a empresa precisa ganhar dinheiro na sua atividade produtiva, ela também precisa ser capaz de gerir bem seu capital.
Muitas vezes, devido a apego, envolvimento emocional, vaidade com o negócio, preferências e aptidões, líderes e empreendedores podem tomar decisões de investimentos sem se levar em conta o que é melhor para o negócio e qual o melhor uso do dinheiro da empresa. Ao se optar por investir em alguma iniciativa, estamos tirando recursos de outra. O problema é quando esta outra é que deveria ser priorizada.
Ao justificar decisões desfavoráveis de investimento desse tipo, escutei de empresários que a razão de existir do negócio não é somente ganhar dinheiro. Eu concordo com a frase, mas acho que ela fica fora de contexto nesses casos. Claro que o objetivo fim de qualquer negócio é cumprir sua missão. Mas quando escuto essa justificativa, complemento a resposta com outra pergunta: Para cumprir sua missão, o negócio não precisa também otimizar o uso do dinheiro da empresa?
A dança do capital, como chamo, não é uma simples competência. É uma verdadeira virtude. É a arte de distribuir bem o capital da empresa e alocar da melhor forma possível, formando uma configuração que maximize a rentabilidade dos investimentos ao longo do tempo,cuidando bem do capital da empresa e contribuindo assim para que a empresa tenha mais forças para cumprir sua missão.
Para que isso aconteça na prática, precisamos enxergar investimento de capital estrategicamente de modo a:
- Garantir que as prioridades de investimento do negócio esteja bem definidas e alinhadas com a estratégia e planejamento geral do negócio
- Captar as oportunidades do momento e ser flexível para incorporar novas oportunidades na estratégia
- Avaliar com cuidado o custo do capital e custo de oportunidade para a empresa. Uma coisa é fazer investimentos em maquinários nos Estados Unidos, onde se compra máquinas a preços competitivos e o juros é baixo, outra coisa é fazer o mesmo no Brasil onde os juros anuais superam 10%. Outra coisa ainda é fazer o mesmo na China, onde o custo de mão-de-obra muitas vezes é mais atrativo que ganhos com automação.
- Analisar o grau de riscos do negócio, o quanto precisamos estar preparados para imprevistos, quanto devemos ter de contingências ou o quanto podemos nos alavancar
- Verificar a necessidade de dinheiro líquido para o negócio, considerando possíveis sazonalidades de vendas de cada negócio, prazos de recebimento e pagamento, etc.
- Perceber potenciais ganhos de produtividade e projetos de investimentos que o negócio pode fazer com impactos decisivos em vendas ou reduções de custo.
Além disso, tem que se levar em conta o contexto macroeconômico e do setor que empresa atua no momento. Assim como na dança, a mudança da música que está tocando exige que a gente adapte os passos ao ritmo.
Como está a dança do capital na sua empresa? Seu capital está bem alocado e gerando retornos acima do que você ganharia com ele aplicado no banco? A alocação do capital pode ser decisiva para o futuro do negócio.