Não se trata apenas de transformação digital

Não se trata apenas de transformação digital

Recentemente, realizamos uma reunião de resultados de um importante cliente nosso onde discutimos o desempenho do negócio no mês de março, como fazemos de costume todos os meses, só que dessa vez todos os líderes participaram por vídeo chamada. Cada um em sua casa, todos os gestores responsáveis apresentaram os resultados e indicadores da sua área: vendas, financeiro, produção, marketing, etc.

Fiquei realmente muito surpreso com dois fatos ocorridos nesta videoconferência. O primeiro foi ver o engajamento e naturalidade do time, que discutiu os resultados, planos de ação com total dinamismo e energia. Confesso, que nos meus mais otimistas desejos, não esperava que uma reunião de resultados pudesse fluir de forma tão dinâmica e profissional, ainda mais sendo aquela a primeira vez onde todos participavam remotamente. Isso chamou muita atenção.

Um segundo fato curioso: na reunião, em dado momento a sócia e presidente do conselho interrompeu a reunião e fez um agradecimento para nós da Mobili destacando a transformação promovida nos últimos 3 anos na empresa e ressaltando o impacto praticamente zero que tivermos mesmo com toda essa crise. Aqui vale uma informação ao leitor: a operação da empresa virou para home office no dia seguinte à crise sem qualquer impacto. Decidimos num dia e no seguinte, com toda naturalidade, sistemas, processos e todo o fluxo de informação estava operando normalmente, exceto claro a produção que permaneceu física dado a natureza do produto.

Quando compartilhei esse acontecimento com um parceiro nosso, este nos compeliu para contar essa história, fazer algum tipo de comunicação, vídeo ou artigo que apresentasse o caso. Este parceiro, uma referência de marketing digital no Brasil, nos contava de grandes clientes atendidos por ele sofrendo enormemente com essa transição para o home office.

Confesso que refleti bastante antes de iniciar essas palavras. Fiquei empolgado com a ideia de compartilhar esse caso de sucesso desse cliente, uma empresa tradicional de mais de 70 anos de mercado que foi capaz de uma hora para outra rodar toda a operação de forma digital, sem sentir a crise. Eu até pensei em contar aqui, nesse artigo, como que em 2017 iniciamos essa transformação digital colocando todos os sistemas da empresa em nuvem, passando a telefonia para telefonia IP, fazendo a troca de desktops de toda a equipe para notebooks e ainda transformando todos os controles internos para sistemas integrados com bancos de dados estruturados. A cultura digital permeia hoje a empresa e essa transformação teve início lá atrás.

Mas, a realidade é que isso tudo por si só não tem tanta importância. Sendo honesto, nunca fizemos esse movimento pensando em preparar a empresa para um momento como este. Para nós, os motivos eram outros: busca por maior produtividade, melhor comunicação, informações em tempo real, redução de custos, melhor experiência aos clientes. De verdade, o mais importante a ser observado está em outro fator, sutil e muito pouco observado, especialmente nessa crise.

Tenho assistido webinars, participado de vídeo conferências e lendo muitos comentários tratando sobre a transformação digital que os negócios estão sendo impelidos a fazer por conta do Covid-19 e confesso que vejo com certo ceticismo. Realmente não acredito em transformações sem princípios, projetos sem visão do todo ou mudanças que ocorrem de fora para dentro. É diferente um negócio adotar dolorosamente mudanças internas de forma voluntária porque realmente acredita e entende que aquela mudança é essencial para o seu futuro, de negócios que são forçados a se adaptar por conta de uma circunstância abrupta momentânea.

Desgastam o termo “transformação digital” mas se esquecem que na verdade este é de fato uma abstração. A transformação digital em si não existe, o que existe é a transformação do negócio.

Trago aqui algumas constatações:

  • O que fez a reunião que citei acima ser de fato uma reunião de excelência não foram as tecnologias disponíveis, mas o fato de já existir uma rotina funcional, uma disciplina de gestão, uma cultura empresarial sólida em que todos sabem o que fazer, independente da ferramenta disponível no momento.
  • Todos na reunião sabiam que precisavam ter os indicadores à mão, prestar contas dos resultados, acompanhar suas metas e projetos.
  • Obviamente, ter os sistemas adequados, informações, notebooks, tudo isso contribuiu, mas a essência que fez a diferença é outra: a cultura do time, o modelo de trabalho, processos enraizados, o espírito de liderança e a gestão.
  • De nada adiantaria ter todas as ferramentas sem as pessoas e os processos adequados funcionando em harmonia.
  • Não existe transformação digital em si, existe sim organizações que trabalham de forma eficiente e que inteligentemente aproveitam as tecnologias disponíveis a seu favor.

Conheço empresas que possuem uma série de sistemas e tecnologias de ponta, disponíveis a toda equipe, mas que com essa crise simplesmente a dinâmica não funcionou ou funcionou parcialmente. Os processos ficaram lentos, parte da equipe ficou improdutiva, a comunicação já não fluiu tão bem, projetos foram adiados ou atrasaram. Aqui, fica claro: a tecnologia em si não faz a diferença; o modelo de gestão sim. A falta de metas claras e que façam com que todos trabalhem na mesma direção, uma cultura que não é coesa, uma comunicação não flui entre os departamentos, tudo isso joga contra. A crise, mais do que nunca, traz ênfase aos pontos falhos, assim como pode também trazer destaque aos pontos fortes daqueles que já se preparavam antes. Como a velha história da cigarra e da formiga, no inverno é que se enxerga o valor do trabalho feito anteriormente. Ou como disse uma vez Warren Buffet, “você só descobre quem estava nadando pelado quando a maré baixa”.

A mensagem que gostaria de deixar e que entendemos ser valiosa para este momento não é tão diferente do que temos falado e praticado nos últimos anos: qualquer transformação de negócios precisa ser sistêmica e considerar o negócio como um todo. Não dá para uma perna andar sem a outra, pois é a harmonia entre estratégia, cultura, processos e tecnologias que constrói negócios verdadeiramente consistentes e preparados para transpor desafios por aí afora.

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